terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Faxina

Recebi esse texto por e-mail de uma amiga, achei bárbaro. Gostaria muito de saber quem é o autor/a para parabenizá-lo/a.
Com muita sutileza e uma riqueza de detalhes, a pessoa demonstra os sentimentos, expectativas, anseios e decisões. Quem nunca sentiu necessidade de fazer uma faxina na própria vida?
Aproveito pra esclarecer que não estou postando com frequência porque tenho realizado diversos trabalhos e me falta o tempo, mas estou aqui.

Estava precisando fazer uma faxina em mim... Jogar alguns pensamentos indesejados fora. Lavar alguns tesouros que andavam meio enferrujados... Tirei do fundo das gavetas lembranças que não uso e não quero mais. Joguei fora alguns sonhos, algumas ilusões... Papéis de presente que nunca usei, sorrisos que nunca darei... Joguei fora a raiva e o rancor das flores murchas que estavam dentro de um livro que não li...
Olhei para meus sorrisos futuros e minhas alegrias pretendidas. E as coloquei num cantinho bem arrumadinhas.
Fiquei sem paciência! Tirei tudo de dentro do armário e fui jogando no chão:
Paixões escondidas, desejos reprimidos, palavras horríveis que nunca queria ter dito, mágoas de um amigo, lembranças de um dia triste... Mas, lá também havia outras coisas... E belas! Um passarinho cantando na minha janela. Aquela lua cor de prata, o pôr-do-sol...
Fui me encantando e me distraindo, olhando para cada uma daquelas lembranças...
Sentei no chão para poder fazer minhas escolhas. Joguei direto no saco de lixo os restos de um amor que me magoou. Peguei as palavras de raiva e de dor que estavam na prateleira de cima, pois quase não as uso. E também joguei fora no mesmo instante!
Outras coisas que ainda me magoam coloquei num canto para depois ver o que farei com elas, se as esqueço lá mesmo ou se mando para o lixão. Aí, fui naquele cantinho, naquela gaveta que a gente guarda tudo o que é mais importante: O amor, a alegria, os sorrisos, um dedinho de fé para os momentos que mais precisamos... Como foi bom relembrar tudo aquilo!
Recolhi com carinho o amor encontrado, dobrei direitinho os desejos, coloquei perfume na esperança, passei um paninho na prateleira das minhas metas, deixei-as à mostra para não perdê-las de vista. Coloquei nas prateleiras de baixo algumas lembranças da infância, na gaveta de cima as da minha juventude e, pendurado bem à minha frente, coloquei a minha capacidade de amar e de recomeçar!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O amor acontece de repente...

Miriam era uma mulher solitária, bem diferente dos anos anteriores quando ela saía para curtir com as amigas, costumava dançar, viajar e uma série de outras diversões. Sempre tão popular! A vida era repleta de emoções! Só que as pessoas mudam, não na essência, essa será a mesma, a personalidade é única, mas as pessoas mudam de estilo, gosto musical, passam a apreciar novos pratos, podem ter outra visão política, religiosa, elas amadurecem e passam a se importar com coisas diferentes. E isso aconteceu com Miriam. Um dia, com o passar dos anos, ela parou de sair e já não via mais graça em virar a noite, ficar com homens que acabou de conhecer nas baladas, nada disso lhe agradava. 
Em que momento o tempo passou sem que Miriam  notasse? Em qual esquina seus desejos e expectativas foram esquecidos? Essa fase chegou ao fim. Aos 28 anos, embora não dissesse para outras pessoas, seu sonho era constituir família, casar-se e ter filhos. Seus programas se limitavam apenas a cinema, teatro e jantar fora. Sempre olhava para os lados como a procurar alguém interessante disposto a vivenciar as mesmas experiências. Quando Miriam ia a alguma festa, tentava se fazer notar, porém nada acontecia. Ela retornava para casa sem esperanças. E dia após dia sentia-se melancólica. Miriam procurava um amor desesperadamente, mas não o encontrava. Suas amigas todas estavam comprometidas e ela sempre só. Tomou a decisão de demonstrar ao mundo que era feliz, uma mulher moderna, alguém que tinha planos diferentes da maioria das mulheres, que pensava apenas em sua carreira, mas lá no fundo do seu íntimo, sentia falta de um homem para abraçar, beijar, estar junto, contar seus problemas, dividir seus sonhos, rir e chorar, não alguém que no dia seguinte não fosse mais telefonar. E assim seus dias iam passando sem grandes novidades. Miriam acreditava ser essa sua sina, teria um grande emprego, mas não teria um grande amor, não formaria sua própria família. 
A vida é como um mar aberto, algumas vezes está calma, em outras é turbulenta. Tudo pode mudar quando menos se espera da mesma maneira que do sul surpreendentemente chega uma frente fria, mudando os planos de passeio das pessoas... E foi assim que num belo dia, ela que não costumava trabalhar aos sábados, resolveu ir para a empresa de modo a adiantar o serviço, tinha acumulado tarefas, além disso, estar na empresa ocuparia seu tempo vazio. Aquele era mais um dia comum como tantos outros em sua vida, ao menos parecia ser... Decidiu pegar o metrô e, na estação, reparou num homem muito interessante, charmoso, porém sério. Ele a olhava de vez em quando até que um sorriu para o outro. Por coincidência ou talvez uma ajudinha do destino,  ambos acabaram por entrar no mesmo vagão, sentando-se lado a lado. Passados alguns minutos de silêncio constrangedor, ele resolveu tentar uma conversa, apresentou-se e fez um elogio. Os dois conversaram rapidamente assuntos do cotidiano: onde trabalhavam, moravam, o que gostavam de ler, gênero preferido de filmes e uma infinidade de atividades simples. E trocaram telefone.
Miriam não costumava dar atenção a estranhos,  mas aquele homem havia mexido com ela. Ele desceu duas estações antes. E a moça seguiu seu caminho até o trabalho. 
O dia estava normal, Miriam colocou as tarefas em dia, conversou com colegas, recebeu um convite pra uma festa, inventou uma desculpa para não aceitar. Lembrou do homem no metrô, seu nome era Marcos, ela sorriu ao pensar nele e achou que nunca mais se encontrariam, ela não iria telefonar e tinha a certeza de que ele também não. A troca de telefone se deu no momento da paquera, porém, cada um viveria sua vida e acabariam se esquecendo daquele dia. 
As horas foram passando e mais um dia chegou ao fim. Ao entrar em casa,  Miriam tomou seu banho, pediu uma pizza e resolveu assistir a um filminho na TV, acabou adormecendo no sofá de tão  exausta. Na manhã seguinte, um lindo domingo de Primavera, o sol brilhava radiante no céu. Ela estava tomando seu café ainda de pijamas e certa preguicinha quando o telefone tocou e não é que era Marcos? Miriam não conseguia acreditar, sentiu-se eufórica, atendeu à ligação e os dois conversaram durante um tempão, ele a convidou para um passeio durante a tarde. Claro que ela aceitou! Miriam escolheu uma roupa confortável, mas sexy. Usou seu melhor perfume, fez uma maquiagem discreta dessas que disfarçam o fato da pessoa se produzir ainda que seja essa a intenção. Comeu uma saladinha e um suco natural, ainda teve tempo de ler algumas páginas de um livro mesmo sem conseguir se concentrar muito, aquele homem tinha algo diferente, especial, e saiu. Foram ao Parque do Ibirapuera e se divertiram muito, caminharam, conversaram sobre diversos assuntos, riram bastante, sentiram-se à vontade um com o outro, pararam numa lanchonete mais tarde e depois ele a deixou em casa. O dia foi incrível, havia muito tempo que ela não se sentia plena e feliz daquele jeito. 
A partir daquele momento, os dois começaram a se falar todos os dias. De repente, estavam namorando. 
Esse relacionamento deu certo, não foi programado, aconteceu! Hoje Miriam e Marcos são casados, eles têm uma filhinha linda e são felizes. Coisas do destino... 
Moral: Sabe quando as coisas parecem estar em ordem ou talvez remediadas? Mas de modo surpreendente um vento forte vem e bagunça tudo? É a chegada aquela pessoa que aparece do nada e você se questiona como pôde ter vivido até aquele momento sem ela? Do nada um chefe contrata uma profissional e ganha muito mais que uma parceira de trabalho? Ou uma aluna muda de uma escola que adorava para outra e, apesar de triste com a mudança, conhece aquela que se tornará sua melhor amiga, sua sócia num empreendimento futuro? 
Na vida é  assim, nada é, tudo está, e o amor acontece quando menos esperamos, quando não estamos procurando por ele. Sandra

sábado, 9 de janeiro de 2010

Divagações sobre o amor...

Esse texto é de uma escritora chamada Sueli Constancia Lopes Alves, quando o li, achei bárbaro e desejo compartilhá-lo com os amigos. Concordo plenamente.

O amor está presente na maioria dos textos escritos desde que o homem aprendeu a maravilhosa arte de escrever. Há opiniões, as mais diversas sobre o tema. Sobre ele, já escreveram filósofos, literatos, psicólogos, médicos, sociólogos, jornalistas, gente do povo, amantes, amados...
Não há, entretanto, quem tenha explorado mais o assunto do que os artistas.
O amor tem sido narrado, encenado, pintado, esculpido, cantado, declamado... Todas as formas de amar, todos os seus encantos e desencantos. Amor alegre e amor triste, amor gritado aos quatro ventos, amor calado, amor correspondido ou desprezado, amor partilhado ou solitário, amor... amor... amor...
Talvez quem mais tenha decantado o amor foram os poetas:

Amor é fogo que arde sem ver...
Que não seja imortal posto que é chama...
Só quem ama é capaz de ouvir e de entender as estrelas...
Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui... além...
Oh amor, desenredado jardim que se consome...
Quem nessa vida amou e não sofreu, passou pela vida, não viveu...

Sublimes Camões, Vinícius, Olavos, Florbelas e tantos mais! Sábios são os poetas ou por serem poetas é que são sábios!
O amor vale sempre a pena. Mesmo que traga dor, tem que ser vivido com sofreguidão.
Às vezes, o amor é como um rio que passa e cuja águas não retornam. E se não passarão de novo, nelas quero mergulhar profundamente, e dessa corrente beber até que a última gota se esgote.
Não sei viver o amor placidamente, a placidez é pra quem acha que se arriscar não vale à pena porque tem a alma pequena - o mestre Fernando Pessoa que me perdoe o atrevimento.
Não quero a mansidão dos estoicistas, quero a intensidade dos epicuristas!
Não quero a placidez dos rios, quero a voracidade do mar, que invade a areia sem pedir licença, que lança suas ondas sem vergonha de rebentar e em espumas se desfazer.
Não sou o rio sereno, sou a agitação do oceano!
Não sou a calmaria, sou a fúria de amar!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Recomeço

Os relacionamentos duram o tempo necessário para que as pessoas sejam felizes. Ou aprendam com eles. A vida é feita de ciclos e os momentos que vivemos se renovam. Portanto, temos que seguir adiante. O que acabou deve ficar no passado, teremos doces recordações de boas situações vividas, as ruins nos servirão como lição, porém, temos que abrir o coração para uma nova etapa. Precisamos nos doar ao máximo numa relação para quando ela chegar ao fim, termos a consciência tranquila, a certeza de que tentamos. O que não podemos é dar murro em ponta de faca, investir num relacionamento que não nos traz mais alegria. Assim como também não devemos obrigar alguém a viver em função dos nossos desejos, nem nos relacionarmos com alguém que pensa em outro alguém. Os dois devem estar preparados para recomeçar, deixando as paixões antigas lá atrás. Mais cedo ou mais tarde, acertaremos na escolha e aí não teremos que viver um novo fim. O importante é deixarmos a mente e o coração livres pra quando esse momento chegar e ele fatalmente chegará, no tempo certo.
Muitas vezes, uma amor antigo, adormecido, desperta para nunca mais partir, pois precisava de um tempo pra que o casal se organizasse, se entendesse e analisasse a dimensão desse sentimento, descobrisse até que ponto um estaria disposto a ceder em prol do outro. Não deixa de ser um recomeço. O importante é saber diferenciar ilusão de sentimento. O amor é um presente de Deus, é a melhor coisa do mundo, mas só quando nos faz felizes. Sandra

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O destino


O Encontro

Era fevereiro de 1993, o tempo estava muito quente e dali alguns dias seria Carnaval. Sara costumava viajar para o litoral paulista sempre que surgiam feriados prolongados, ela gostava da pitoresca cidade Boiçucanga ou de São Vicente. Mas, os amigos queriam ir para Mongaguá. Ela definitivamente não gostava de lá, achava que era uma praia sem graça embora fosse um lugar escolhido por muitos. Daquela vez, Sara fez a vontade dos amigos e foi para lá mesmo contrariada.
A cidade estava cheia de visitantes, todos os lugares lotados, havia fila pra tudo. Durante o dia, as pessoas disputavam um lugar na areia para colocarem o guarda-sol, a barraca, as cadeiras... durante a noite, iam procurar diversão nos barzinhos, nos quiosques onde a música rolava a noite inteira até o amanhecer, iam na danceteria da cidade ou na avenida para assistirem a escola de samba local passar. Depois que a escola passava, todos pulavam com os bloquinhos na rua. Menos Sara, ela sentou-se no banco da praça central, próximo à feirinha e lá ficou observando o movimento, entediada.
Uma multidão caminhava de um lado a outro e Sara só pensava consigo mesma: "o que estou fazendo aqui?" quando, de repente, passou por ela um homem lindo, desses que habitavam seus sonhos mais secretos. Trocaram um olhar e um sorriso até que ele se aproximou... Foi rápido assim!
Sara era uma morena de olhos castanhos e cabelos longos, estava bronzeada e usava um vestido florido. Tinha 19 anos. Márcio era loiro, de olhos cor de mel, um físico forte e tinha os cabelos na altura dos ombros, lisos do tipo escorrido, ele mais parecia um surfista. Tinha 21. Ele se apresentou e os dois se entenderam logo de cara. Havia uma química entre eles. O papo era agradável e a noite estava linda. Falaram sobre músicas, viagens, gostos, culinária e uma infinidade de assuntos. Sentiram-se atraídos um pelo outro momentaneamente. Riram, dançaram, flertaram e foram dar umas voltas à beira-mar. Foi ao som das ondas quebrando nas rochas, sob um céu estrelado e uma lua exuberante que eles se beijaram pela primeira vez.
Sara desejava que aquela noite jamais terminasse... e pensar que ela nem queria estar ali... Os dias que se seguiram foram tão especiais quanto aquela noite. Se pudessem, nunca mais iriam embora. Viveriam lá pra sempre. Mongaguá se tornara um paraíso tropical aos olhos de Sara. Márcio sempre gostou da cidade. Aqueles quatro dias de Carnaval foram os melhores dias da vida dos dois. A felicidade de ambos atraía a atenção de todos, que belo par formavam!

Parecia magia, mas era uma forte atração! Apenas quatro dias que pareciam uma vida inteira... Acontece que toda viagem termina e aqueles dias maravilhosos chegavam ao fim, era preciso voltar pra casa!
Um dia antes da partida

Após Sara e Márcio terem se conhecido e não se desgrudarem nem por um momento durante aquele feriado inesquecível, era chegada a hora de retornar ao trabalho, aos estudos, enfim à vida cotidiana. 
Na terça à noite se despediram já que no dia seguinte deixariam a cidade, ela iria pra São Paulo e ele para Santo André, no ABC Paulista. Por que será que sentiam uma angústia no peito? Não era pra ser assim, pois combinaram de se encontrar, estavam até namorando, esse era o plano! Nunca nenhum dos dois iniciou um namoro assim tão rápido! No entanto, algo mágico aconteceu entre eles, parecia que se conheciam havia muitos anos. E nenhum dos dois conseguia explicar pra si e nem falar para o outro sobre aquela sensação ruim que sentiam.
Fizeram amor na praia de madrugada, dentro de um barco ancorado na noite da despedida. E foi arrebatador!

A partida

A quarta-feira chegou e os dois retornaram para suas casas, ele foi logo de manhã e ela no final da tarde... voltaram finalmente para suas vidas.
Os dias se passaram e nenhum contato foi feito da parte de Márcio, uma semana, duas, três,  um mês  e nada! Sara não compreendia a razão de seu amor não lhe telefonar. Ao desabafar com uma amiga, esta lhe disse - então telefone você!
Foi nesse momento que ela sentiu uma dor invadir seu peito, o desespero tomou conta do seu ser. Explicou para a amiga que somente Márcio havia anotado o seu telefone residencial, naquele tempo não possuíam um celular, ela ficou de anotar também o número da casa dele, depois, com tantos assuntos e programas pra fazerem acabou esquecendo. E partiu sem fazer isso, uma falha, um absurdo... Estava na dependência dele, mas teria ele perdido o número? Ou simplesmente jogado fora? Afinal, como dizem por aí "amor de praia não sobe a serra".
Sara pensava em cada minuto vivido ao lado de Márcio, tentava extrair da memória algo relevante que pudesse ajudá-la a reencontrá-lo. Eles conversaram sobre os mais variados assuntos. Falaram sobre passado, presente e futuro, sobre qualidades e defeitos, pontos fortes e fraquezas, muitas eram as coisas em comum. Fizeram tantos planos e ainda assim, tudo o que sabiam era o primeiro nome e a cidade do outro, não havia informações necessárias para se localizarem.
Como puderam ser tão displicentes? Não falaram onde trabalhavam, apenas o que faziam, não disseram um para o outro onde estudavam, somente a profissão que desejavam exercer, sequer comentaram entre si quais lugares frequentavam nas suas respectivas cidades. Santo André não é longe, mas dependendo do bairro em que se esteja fica fora de mão. Em contrapartida, procurar alguém em São Paulo é como procurar uma agulha no palheiro ou, pior ainda, como procurar uma correntinha perdida caída no oceano.
Sara pensou em inúmeras ações: fazer cartazes, faixas e outdoors espalhando-os por Santo André inteira pra tentar localizá-lo. Pensou, pensou e só pensou. Ao longo dos anos, a cada feriado, ela ia para Mongaguá sempre na esperança de revê-lo. Em vão andou por todos os lugares por onde passaram naqueles inesquecíveis dias de Carnaval...

E o tempo avançava implacavelmente!

As preocupações e a rotina do dia-a-dia foram tomando espaço, o passar dos anos foram deixando aqueles momentos cada vez mais distantes. Esquecer, ela não esqueceu, só que o tempo fez parecer como cenas de um filme, como se ela não tivesse vivido e sim assistido a um lindo romance. 
Algumas noites, a moça sonhava com Márcio e acordava triste, perguntava a si mesma se pelo menos por um breve instante ele se lembraria dela. Quanto tempo ele teria levado pra esquecê-la? Por que nunca telefonou?
E a vida seguia seu curso...
Sara casou-se em 2004, aos 30, 11 anos após o inesquecível Carnaval de 1993. Gostava muito de seu marido, Rui, um homem inteligente, bonito e apaixonado por ela. Tiveram um filho. Eram felizes sem dúvida, eram muito felizes! Teria Márcio se casado também? Eram raros os momentos em que ela pensava nele agora, mas ainda acontecia.
O casamento de Sara durou 6 anos muito bem vividos, ela lamentou o fim dessa união que parecia ser promissora, pra vida inteira. Ficou realmente abalada.

O inesperado

Com o fim da relação, Sara decidiu fazer uma viagem pra esparecer e escolheu Veneza, a Sereníssima no norte da Itália. Um lugar romântico, ideal para estar acompanhada, entretanto, não havia problema, ela sempre quis conhecer essa cidade e estar só não a impediria de aproveitar cada instante.
A Itália parece ter magia, contagia os turistas e Sara ficou fascinada por seu encanto. Sentia-se um pouco culpada por deixar o filho com sua mãe, mas precisava desse tempo para repor as energias.
No 3º dia, estava num caffè e, distraída, admirava o local e as pessoas entusiasmadas. Observava os casais apaixonados e pensou em sua falta de sorte no amor. Nesse momento, ela sentiu uma mão tocar seu ombro e uma voz a dizer:

- Come stai, bella mia?

No que olhou, sentiu seu coração parar por alguns segundos, depois ele recomeçou a bater cada vez mais forte, a acelerar descompassadamente, a disparar... até que ela faleceu... (ahahaha brincadeira, não resisti). Sara nada conseguiu dizer, apenas sorriu, era Márcio!
Após um momento de pura emoção, ela respondeu:

- Non potrei stare meglio!

Desataram a rir enquanto os olhos marejados pelas lágrimas contraditórios ao riso brilhavam. Finalmente tinham se reencontrado! Eles se abraçaram de modo apertado e prolongado, foi inusitado, inimaginável e emocionante. Deram um beijo cheio de saudades e perceberam que nada havia mudado. Os dois se reconheceram assim que se olharam. Eram as mesmas sensações, a mesma leveza, corações em desalinho. Conversaram sobre exatamente tudo, tudo o que viveram desde aquele Carnaval até os dias atuais.
Márcio contou que ao chegar em casa, procurou o pedaço de papel com o número do telefone de Sara, mas havia perdido. Falou da tristeza dessa separação e de toda sua vida desde então.
Ele se casou duas vezes, o primeiro casamento resultou num divórcio, o segundo num luto há pouco menos de um ano. Teve dois filhos com a primeira esposa e uma filha com a segunda. Não pôde negar que foi feliz.
Finalmente, ambos estavam livres para recomeçarem de onde pararam tantos anos atrás. Desta vez, não cometeriam os mesmos erros. Trocaram todas as informações possíveis e imagináveis. Em 93, sequer possuíam um endereço de e-mail...
A conversa foi longa e animada, nem perceberam as horas passando.
Sara e Márcio viveram dias apaixonados em Veneza, passearam pela Basílica de San Marco, andaram de gôndola pelos canais e foram em todos os pontos turísticos.
Ela está linda - pensava ele, uma beleza de mulher e não de menina. Já ele, tinha cortado os cabelos, estava mais sério, maduro, um pouco grisalho, porém, mais atraente seria impossível - refletia Sara.
Muitas vezes, não sabemos por qual razão é necessário mudar as direções. Nós, simples mortais, não compreendemos, mas existe uma razão maior que nos faz seguir outros rumos e nos vemos tendo que abrir mão de desejos e planos. Porém, o que é de cada um... é e ninguém poderá mudar isso.

E foi assim, o mesmo destino que os separou, os uniu novamente quase 18 anos depois, desta vez para sempre.
Sandra